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Lado A #01: Kimi ni Todoke

Essa coluna deverá se tornar quinzenal (juro que vou tentar), onde apresentarei dois mangás de estilos distintos a cada mês. No Lado A tratarei de mangás shoujo, alguns bem conhecidos e aclamados por muitos e outros que não caíram no gosto da maioria do público que lê este tipo de mangá. No Lado B pretendo trazer para o Another Warehouse um estilo de mangá de público mais reduzido, mas acho que alguns irão gostar…

Começando a coluna com uma obra famosa e que agrada um grande público tanto japonês quanto certo público ocidental, mas que mesmo assim é carregada de críticas a cerca de seu estilo de romance e pela construção não muito verossímil de seus personagens principais. A escolha de Kimi ni Todoke foi feita por ser uma obra que eu possuo muito contato há bastante tempo, logo se torna mais fácil iniciar a bodega com produto conhecido. E o texto foi feito para pessoas que já leram a obra, mas vou separar a parte com spoilers tanto pra quem nunca leu, tanto pra quem só viu o anime ou acompanha o mangá pela Panini Comics.

Lado A: Kimi ni Todoke (Alcançando Você)

Kimi ni Todoke é um mangá de romance da autoria de Shiina Karuho, responsável pela história e pela arte do mesmo. O mangá é serializado pela Betsuma (Bessatsu Margaret) da editora Shueisha desde 2006, estando agora no seu presente 16º volume, sendo um shoujo com um número de exemplares vendidos altíssimo para sua demografia, normalmente atingindo o topo das listas de vendas de mangá. Outro fato que reforça e acompanha o sucesso da obra foram a produção de duas temporadas de anime produzidas pela Production I.G. e um filme live-action.

A história é sobre a jovem Kuronuma Sawako, uma garota que além de ter problemas para se comunicar e para fazer amizades, ainda tem uma aparência próxima a da personagem do filme de terror O Chamado (The Ring), Sadako. Os colegas de colégio confundem seu nome sem dó nem piedade e têm medo de se aproximar da garota. Mas, sempre tem um, “mas” na história. O garoto Kazehaya Shota, simpático, galante, refrescante, quase um idol do colégio, não apresenta receios em se aproximar da garota, aquecendo o coração da nossa protagonista aos poucos.

Se você procura uma história açucarada e não se incomoda com um avanço lento dos relacionamentos que constituem a obra, Kimi ni Todoke é uma boa pedida. O traço fino de Shiina, a história leve, mas que sabe arrancar lágrimas daqueles que se vêem envolvidos por este enredo e pelas personagens quase que sem defeitos, quase que de caráter perfeito.

Se você deseja ler o mangá, ele está sendo publicado no Brasil pela editora Panini Comics. Uma compra recomendável.

As fases de uma história

Aqui haverão poucos spoilers da série, mas serão abordados fatos além-anime.

A história de Kimi ni Todoke se constrói a partir desse plot, mas o mangá em geral não se trata somente de uma história de amor. Kimi ni Todoke conta a mudança na vida de uma garota dócil, mas que nunca foi compreendida e aceita em grupos sociais. Mudança tal que é impulsionada pelo seu par romântico, mas que é desenvolvida através das amizades que Sawako constrói, além de desafetos e inimizades.

Eu divido Kimi ni Todoke mentalmente em três fases.

Uma fase em que se desenvolve a amizade entre Sawako, Yano Ayane e Yoshida Chizuru. Com uma apresentação da história e o primeiro encantamento de Sawako por Kazehaya, partimos para o primeiro desafio de Sawako em construir seus relacionamentos, afetivos ou não. Temos nessa fase uma mostra de como a protagonista possui uma personalidade tão, mas tão tímida reclusa e intimidada, que não consegue crer na possibilidade de ter firmado laços de amizade com as duas garotas. Isso é tão claro nessa fase e ainda mais enfatizado pela trama que é formada por Kurumizawa Ume e que põe em prova a amizade entre as garotas. A personagem Kurumi é  uma quebra nos paradigmas que o mangá apresentava até então, sendo o ponto criador de tensão nas relações, mas que ainda mostrou seu lado humano e apaixonado. E foi longe na busca de ter seus sentimentos correspondidos pelo galante Kazehaya, mesmo sem sucesso.

A segunda fase de Kimi ni Todoke aborda a construção do laço amoroso entre as personagens principais. Na primeira fase do mangá o romance estava presente, mas apenas foi um apoio para que Sawako vencesse os obstáculos impostos pela sua personalidade extremamente tímida e insegura. Nessa fase do mangá (abordada na segunda temporada do anime) conhecemos mais o personagem Kazehaya Shota e seus sentimentos, que não são puramente de amizade, em que Kazehaya se torna um personagem bem menos idealizado do que foi apresentado até este ponto. São mostrados seus pensamentos e desejos de se aproximar da garota amada, que as suas ações não são meramente “caridosas”, há uma razão sentimental para tais ações de Kazehaya em relação à Sawako. Só que nossa protagonista além de ser extremamente tímida, não apresenta nem um segundo sentido em relação a romance para diferenciar amor de compaixão e ainda adiciona-se um fator que complica mais, Miura Kento. Com um possível rival vemos esse lado mais “humano” de Kazehaya se destacar, mas finalmente vemos Sawako vencer mais esse obstáculo em suas relações sociais: o primeiro amor, a primeira declaração, o primeiro namorado… Mas, nada de primeiro beijo.

Então parte-se para a terceira e atual parte do mangá, que adentra no desenvolvimento do relacionamento amoroso de Sawako e Kazehaya. A relação entre os dois se mantém lenta, porém mais progressiva e o namoro avança. Consideram-se avanços o fato de Kazehaya conhecer os pais da garota, Sawako conhecer a família de Kazehaya e um quase beijo entre os dois, que cá entre nós, para o nível do romance até aqui foi o acontecimento mais íntimo do casal.

Agora, em minha opinião, a abordagem mais interessante está na trama envolvendo Chizu e de Sanada Ryu, os amigos de infância engraçadíssimos e com um envolvimento tão agradável, mas que batem de encontro a um sentimento amoroso por parte de Ryu que não é compartilhado por Chizu. Considero esse arco de Kimi ni Todoke o mais bonito até aqui, mesmo com ele ainda não finalizado. Bem mais verossímil que o arco principal, com sentimentos que são mais facilmente absorvidos pelo leitor e uma trama que conseguiu ser mais dramática que as dificuldades de Sawako em relacionar com Kazehaya, visto que os dois possuem como obstáculo suas personalidades praticamente idealizadas.

E nos desenvolvimentos de personagens incluímos Yano, que sempre foi vista como uma mulher já acostumada em enfrentar problemas amorosos, mas que se mostra insegura em relacionamentos sérios, mesmo despertando o afeto de Kento.

Essa fase de Kimi ni Todoke é bem mais ampla em temas que as demais, onde o foco do mangá estava mais concentrado em uma corrente de acontecimentos, se desvencilhando bem menos para desenvolver outras tramas. O rumo do mangá está em deixar de ser uma história sobre uma garota e seus problemas sociais e se tornar um mangá onde o crescimento e amadurecimento amoroso de um grupo de jovens personagens, carismáticos e lentamente desenvolvidos para esse presente momento da história.

Até aonde vai a idealização?

A crítica mais voraz que recai sobre Kimi ni Todoke são os personagens e enredo extremamente idealizados. Sawako é uma garota que não possui uma aparência tão fofa para os padrões shoujo, mas sua personalidade é tão inocente e ela é uma pessoa tão cheia de boas intenções que se torna uma tarefa difícil apontarem um defeito para a mesma. Diga-se o mesmo para muitos outros personagens, como Kazehaya, Chizu…

Mas, existem as exceções nesse excesso de bondade. Considero a principal exceção a Kurumi, de longe a personagem mais interessante do mangá. Bonita, invejosa, falsa, apaixonada. E não se trata de uma personagem que você ama odiar, do mesmo jeito que Sawako se torna aquela que você odeia amar.

E o sucesso, de onde surgiu? Kimi ni Todoke facilmente agrada um público pré-adolescente e mesmo jovens adultos. Não é um mangá ame ou odeie, possui um belo traço, uma história que te arranca um suspirinho inocente, apresenta personagens com carisma e quando você se prende a eles e em suas tramas, fica complicado para muitos não desejar comprar todos os volumes. É só se deixar levar pelo clima que ele lhe oferece, pela inocência que a história trata o amor e a amizade que você vai entender o bom desse “romance piegas”.

Bem, um misto de review com análise, um estudo da obra. Até a próxima e espero que tenham gostado.

Por @larischibs e dedicado a minha amiga @Otomenerd, a maior fã que eu conheço desse mangá.

Sobre Laris

Les livres sont des amis froids et sûrs. @c_larksi

Um comentário em “Lado A #01: Kimi ni Todoke

  1. Como esperado da Laris descreveu e contou muito bem sobre Kimi ni Todoke *-*
    Parabéns e obrigada por dedicar para mim ❤

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