Diário de Bordo #04.10: Shin Sekai Yori: From the New World

EPISÓDIO 10: MAIS DO QUE A ESCURIDÃO 「闇よりも 」 (Yami Yori mo)

Plot & Feelings.

Era uma vez uma vila onde vivia um garoto.

Era um garoto com grande inteligência, mas que tinha uma fraqueza.

A solidão era sua única amiga e confidente.

Sem que o menino percebesse, seu karma se tornou uma espiral descontrolada.

Ele se tornara um demônio do karma.

Demônios do karma não devem andar por esse mundo.

Ele serenamente se encaminhou para o fundo de um lago.

A narração de uma história semelhante à fábula lida por Shun anteriormente é o suficiente para você imaginar o que Saki encontrará ao final da busca pelo amigo. Depois de derrotar um Nekodamashi graças à defesa proporcionada pelo amuleto que ganhara e pela sua própria coragem ao revidar o ataque sem hesitar, a recompensa por seus esforços não poderia ser mais melancólica.

Arredio nas palavras e com a expressão oculta por uma máscara, a tentativa de Shun ao expulsar Saki se mostra bastante intimidadora. Mas é claro que ela não chegou até esse ponto só para voltar sem explicações, e sua teimosia é suficiente para fazê-lo voltar atrás nas ameaças.

ele disse que iria morar em um bangalô…

O que se segue é um diálogo, ou melhor, um monólogo explicativo filosófico com pinceladas freudianas que adiciona mais informações a respeito do universo de Shin Sekai. Poderia ter sido uma cena anti-climática, mas se o infodump do Falso Minoshiro no episódio 4 foi ótimo… este proporcionado por Shun mereceu um Oscar pela interpretação e execução da cena.

“Todos os problemas vem do coração humano”.

A conformidade de Shun a respeito de sua condição chega a ser assustadora. Metodicamente, ele conta a uma agoniada Saki como o Cantus vaza do subconsciente de cada pessoa e altera a realidade pouco a pouco. Por isso a importância dos mecanismos de defesa como a Barreira Sagrada, que direciona todo esse poder para fora como um esgoto.

inseto mutante

Esse acúmulo de Cantus foi o causador das mudanças radicais na genética da flora e fauna ao longo desses 1000 anos. Lembram-se que no início do episódio a Saki encontrou espécies mutantes logo que chegou na área sob influência de Shun? Essa revelação não chega a ser um mindfuck em relação ao plot, mas é uma explicação coesa e que fortalece as bases da história (bem, não é à toa que a novel foi premiada, certo?).

“Tememos insanamente o que é gerado dentro de nós.”

Certo, temos as informações, mas não é só esse o foco do episódio. Isso fica claro na continuação da cena, no instante em que a música de suspense é substituída por uma de tom mais dramático.

SÓ NÃO MEXE COM O BICHIM

Shun não precisava nem ter dito que está com a síndrome Hashimoto-Appelbaum para entendermos o que aconteceu na prática. O subconsciente dele está fora de controle, seu Cantus vazando sem parar. O moleque virou um “Chernobyl” ambulante,  não pode nem encostar nas coisas que elas se distorcem. Só de ficar na companhia dele, o fofinho Subaru se tornou um cão mutante horrendo. Foi ele mesmo que destruiu a própria vila e causou a morte dos pais. E aquelas bolachas trakinas esferas rodando ao redor dele no episódio 8 já eram um sinal do descontrole.

agora tô mal por ter rido disso.

Os motivos disso ter acontecido não ficaram explícitos. Ele não estava aprontando nada propositalmente nem sua personalidade mostrou-se diferente; ele se diz ser “apenas o caso mais recente”, o que implica não ser algo tão raro na sociedade. Mas Saki não pode deixar de considerar…

será?

Daí já entramos no terreno da especulação. Me pergunto se qualquer desequilíbrio no yin/yang da pessoa já pode causar a síndrome, o que no caso estaria relacionado à solidão comentada na história do início e nas próprias palavras de Shun. Essa agonia  individual teria levado o prodígio aos limites do descontrole? Ou foi mesmo relacionado ao Cantus recuperado de forma amadora?

O discurso final é emocionante. Ele revela que o coquetel de veneno não fez efeito nenhum por conta de seu subconsciente se recusar a morrer e que sua indecisão causou a morte de Subaru. Minha interpretação (que fique claro) foi que, após desabafar tudo com Saki, ele juntou coragem para tomar uma decisão e finamente selar a si mesmo, terminando sua própria agonia.

Declarando-se a ela, ainda que apenas para despedir-se, Shun pode partir sem arrependimentos e ela pode continuar a viver. Esse encontro foi fundamental não apenas para agregar informações do enredo, mas também para a conclusão e o amadurecimento emocional dos personagens. Se Shun realmente morreu, ele foi em paz.

Confesso que esse episódio me emocionou bastante, e isso que não sou tão ligada aos personagens desse anime. Mas o retorno de Yamauchi Shigeyasu na direção trouxe com perfeição a carga necessária de sentimentos e desespero para atingir a audiência. Alguns enquadramentos, cenários e cores lembraram um pouco o estilo do estúdio SHAFT e do anime Casherrn Sins, mas longe de atrapalhar, se encaixaram muito bem nas cenas. E a música, como sempre, na hora e na medida certa. Uma das melhores OSTs da temporada, tanto individualmente quanto inserida no anime.

E outra coisa que me lembrei aos 90 minutos do segundo tempo… máscara aleatória do episódio 1 e idêntica a do Shun, alguém?

E até semana que vem, me despeço sem pretensões de palpitar porque eu sei que vou errar.

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E quem quiser ler mais sobre a teoria psicanalítica de Freud para captar as semelhanças com o discurso do Shun, dê uma olhada aqui.

Fonte dos kanjis do nome do episódio: Random Curiosity