Olá, caro leitor, você está procurando coerência? Então… abriu o review errado, pode apertar o botão de voltar do navegador. Agora, se estiver procurando diversão… veio ao lugar certo.
Panty & Stocking With Garterbelt é um anime produzido pela Gainax e lançado em Outubro de 2010 com 13 episódios, sua adaptação em mangá feita na revista Young Ace, durou apenas 9 capítulos, conta a história de uma cidade que fica localizada na falha que separa o céu e o inferno, a cidade de Daten. Os seus habitantes precisam viver sob constante ameaça de ataques dos espíritos malignos e contam com a proteção de apenas duas anjas que foram expulsas do paraíso por mau comportamento. Elas são Panty, uma mulher que só pensa em sexo, e Stocking, que consegue apenas se preocupar com os seus doces. As duas precisam lutar contra os mais variados tipos de monstros para conseguir conquistar de volta o seu lugar no Céu e para isso elas terão a ajuda do estranho Garterbelt e do estranho bichinho Chuck.
À primeira vista, o anime Panty & Stocking With Garterbelt (ou PSG, porque todo otaku adora acrônimos) parece exaltar a definição de Widget Series a um pedestal… e à décima vista, essa impressão não parece mudar. O anime se recheia de clichês sem perdão, para sumariamente brincar com eles, torturá-los, usá-los, jogar em uma frigideira com um pouco de sal, e depois que o clichê encontra-se impossível de reconhecer, aplicá-lo com uma cara de pau tão grande que você finge que não reconhece.
É uma obra de arte, para quem curte um humor aleatório, tal como os consagrados piadistas de Monty Python faziam. E isso se observa durante sua temporada inteira, por mais que uma tentativa de plot tenha sido jogada aí no meio, indubitavelmente como paródia de outras widget series que tentam criar finais coerentes “just because.”
Subjetivamente, pode-se dividir o anime em dois tipos de episódio: Os episódios 1,6, 12 e 13 formam juntos um plot quase totalmente fechado e coerente, apresentando e humanizando (à medida do possível…) quase todos os personagens de alguma importância sem perder nenhuma das características marcantes. Sem tocar em nenhum outro episódio, é possível dizer ter assistido o anime apenas vendo esse mero 1/3 do total.
A grande maioria do anime, então, consiste do recheio cremoso da bolacha, uma série de episódios psicodelicamente desconexos que consistem basicamente em uma grande zoação com a idéia de continuidade, envoltos em camadas sobre camadas de humor baixo, físico, e antisocial beirando à psicopatia. As personagens principais não cativam por serem relacionáveis… elas cativam justamente pela impossibilidade de sua existência, um contraste com o mundo real e muitas vezes com o imaginário do espectador, uma carimbagem forçada das palavras “ELAS NÃO SÃO HUMANAS” em sua mente.
E com os parágrafos anteriores, espero ter induzido o estado de mente nescessário para se apreciar PSG.
A desculpa (alguns diriam premissa) do anime é que as personagens principais são duas anjas caídas, irmãs que precisam se redimir na terra exorcisando fantasmas. Panty (que acaba se tornando a personagem principal, ou pelo menos a que mais entra em foco) é a típica loira burra e ninfomaníaca, mais interessada em empilhar corpos de homens cansados demais pra se mover do que caçar fantasmas. Stocking, sua irmã, é uma gótica com cabelo estupidamente longo e, relativo ao comportamento de sua irmã, quase angelical… exceto quando o assunto são doces.
Sob os auspícios de um desenho estilo cartoon (proposital), as anjas, hospedadas em uma igreja, são forçadas a socos, pontapés, e muito sermão pelo padre garterbelt (que, diga-se de passagem, é um negão cujo gigantesco afro o torna ainda mais imponente, mas isso é, no grande esquema do anime, um detalhe) a exorcisarem os requisitos fantasmas.
Parodiando clássicos animes de mahou shoujo, o desenho rapidamente muda para um estilo clássico durante as “cenas” de transformação das anjas. (que, fiel à premissa do anime de não deixar NADA sem ser parodiado, acontece talvez umas duas ou três vezes sem ser interrompida ou zoada em todos os treze episódios), corta de volta ao desenho cartoon, e ainda faz transições para bonecos de massinha explodindo a cada fantasma exorcisado, muitas vezes fazendo a mudança entre os estilos tão rapidamente que chega a ser psicodélico. Impressionante, entretanto, é como cada detalhe é pensado, e quem é detalhista acaba tendo que rever as cenas várias vezes, porque até mesmo as onomatopéias, como “nice dunk!”, são incrivelmente pensadas.
O quesito áudio chega a ser até dispensável. A trilha sonora não irá agradar aos mais audiófilos, mas o voice acting, apesar da minha completa inabilidade com japonês, é realmente espetacular com as partes mais universais, como a grande totalidade dos gemidos orgásmicos que são empurrados para dentro dos nossos ouvidos. Grande parte das músicas-tema não recebe o screentime que merecem, muitas vezes sendo cortadas pelos eventos na tela antes de conseguirem realmente cativar os ouvidos, enquanto outras acabam sendo moderadamente exaustivas. “Fly Away” é divertido, um tom upbeat nas primeiras várias vezes em que aparece, mas não apenas uma parte minúscula da sua totalidade aparece em qualquer episódio, é tocado a exaustão e mais um pouco. “D-City Rock” aparece com um pouco menos constância mas rapidamente levará à loucura qualquer um que não gostar. O tema da Scanty & Kneesocks só aparece uma única vez com o screentime que merece e é muito bem feito. O tema das personagens principais é o da OP e combina com a mesma, mas não é um ear worm digno das personagens. E, por causa do conteúdo dos episódios, Fallen Angel é quase uma paródia de EDs, e simplesmente não bate com o anime.
Eu poderia falar de caracterização, mas a verdade é que ela simplesmente é tratada com o mesmo respeito que fezes, vômito, e os ânus de alguns personagens. As anjas apresentam algum desenvolvimento – é impossível fazer 13 episódios centrados em duas personagens sem que elas mudem um pouco, ou até mesmo uma widget series que explora tanta insanidade quanto PSG teria conseguido cair de alguma forma em formulismo – , com Panty começando a apresentar traços levianamente doces, caracterizando-a quase como uma tsundere por acidente, e Stocking começando a mostrar um lado mais sombrio. Entretanto, o que mais acontece é simplesmente uma mudança de ponto de vista em relação a outros personagens principais ou secundários. Brief, por exemplo, demonstra em seus dois primeiros episódios toda a extensão da sua personalidade, e garterbelt, apesar de receber meio episódio para sua backstory, não se altera como persona, no máximo muda como a audiência o percebe. O cerne de todos os episódios são realmente as personalidades violentas, inumanas e risíveis das principais, mesmo quando elas estão ausentes.
Com uma estrutura que parece um emaranhado de arame farpado, é talvez difícil compreender o que atrai no anime. Certamente, ele não fará a cabeça de quem não consegue apreciar um humor adulto, de baixo calão. Mas para quem está cansado dos clichês e tem a mente aberta o suficiente (recomendo lobotomia) para ter essencialmente toda sua idéia de animes destroçada em nome do bom humor, vai encontrar um lugar no seu coração para as irmãs. E imediatamente vai sentir pontadas no fígado enquanto elas exploram seu corpo com armas de fogo.
Em suma, quando é impossível falar do anime com clareza e consistência, afinal o próprio fica atrapalhando a si mesmo, pode ser difícil achar motivos para lhe dar uma chance. Por favor, desconsidere isso: mesmo se de início o humor explorado possa parecer dispensável, ele tem a capacidade de cativar… e de expandir horizontes. PSG é polarizante; você vai amar, ou odiar, e como eu caio na casa dos que amo, só posso recomendar: é um anime imperdível. E fim de papo.
Texto muito bom, parabéns por ele. Já vi vários artigos sobre este anime (a última vez foi há bem pouco tempo, no Corrente de Reviews), e pra mim esse foi o melhor que já li.
Não cheguei a gostar tanto de “Panty and Sotcking”, É agradavelmente insano, o visual e a animação tão colorida e agitada atraem, mas seu humor muitas vezes escatológico me desanimava. A diversão foi até que razoável, mas não me apeguei a ele. Entre amar e odiar, fico no meio termo.
A resenha era perfeita até
>O quesito áudio chega a ser até dispensável.
Não deve ter ouvido falar do No-pan Night. A música de PSG é um dos pontos mais fortes do anime.
Concordo, a OST combina, em sua maioria, com as cenas ali apresentadas e salienta ou traz o/um “sentimento.” A múisca “Fly Away” é a que mais mostra isso, já que, utilizada nas cenas de transformações, transforma aquilo em algo sexy e bem agradável.