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O momento que você descobre um novo integrante do top 10: A Luz Azul

“Eu acho que existem situações em que as pessoas são obrigadas a matar”. Arrepiei, já posso por esse filme no meu top 10 de filmes gerais e no top 10 dos melhores filmes japoneses que eu já vi? Sem palavras aqui.

A Luz Azul (Ao no hono-o no original, The Blue Flame em Inglês) é um filme japonês de 2003, uma adaptação de um livro de mesmo nome escrito por Kishi Yuusuke, o filme é o segundo papel de Ninomiya Kazunari para os cinemas, posteriormente ele acabaria ficando famoso por atuar em Cartas de Iwo Jima, participando também como Kurono Kei, nos lives-actions do famoso mangá Gantz. Como seiyuu, deu sua voz ao personagem Preto de Tekkon Kinkreet, ou Preto e Branco, como é conhecido no Brasil.

O filme conta a história de Shuichi Kushimori, um aluno do ensino médio, 17 anos e que vive feliz com sua mãe e sua meia-irmã. Um belo dia, sem avisar, seu padrasto Sone resolve dar as caras após ter sumido por uns tempos. Sone rapidamente volta a beber e a abusar da sua ex-esposa e da filha. Quando ele tenta abusar sexualmente da meia-irmã de Shuichi, o garoto se vê forçado a resolver as coisas por conta própria.

O que me assusta nesse filme é tudo… Ele é simplesmente genial demais.

Eu peguei esse filme aleatoriamente, o vi em um fansub que eu baixei um curta (aliás, parabéns pro fansub, me esforcei pra entender os erros de concordância durante o filme todo) e pensava que seria apenas mais um, o que exatamente não foi no final.

A surpresa é aquele sentimento bom, e o que aconteceu foi como disse: seria apenas mais um, mas acabou sendo um dos filmes mais geniais que já vi, é surpreendente demais para mim, estou em estado de choque profundo, preciso pausar esse review por dois segundos e beber um gole d’água, ou então não vou conseguir expressar direito o que penso desse filme.

Ok, água bebida, vamos continuar falando do por que minha supresa foi tão grande. Já contei como adoro temas simples que se tornam coisas absolutamente fantásticas?

O tema do filme é absurdamente simples, a ponto de não dar pra esperar muita profundidade do mesmo.

Ao ler a sinopse do filme eu logo pensei: “Hm, interessante, um filme sobre vingança. Deve ser bem legal, japoneses costumam fazer bons filmes assim”.

Bom, eu não posso dizer que não foi abaixo das expectativas, até por que superou e muito, mas vamos parar de enrolar e tentar explicar o porquê, mas antes, mais uma pausa pra água.

Ok, voltando, um dos pontos que mais me impressionaram no filme foi o drama que traça a história. O filme é muito bem feito e muito bem conduzido; a história é um tanto estranha, só é revelado apenas o necessário e nada mais, o que de uma certa perspectiva é bom, já que não te enche de informações inúteis.

 

O filme cria uma intimidade emocional sem cenas explícitas muito boa, inclusive ela é muitas vezes vista em diversos filmes japoneses. Na verdade ele é tão inocente em relação ao oeste que talvez as emoções que tenta transmitir podem ser perdidas sobre o espectador se você não prestar atenção. Pessoalmente, eu gostei porque é uma abordagem refrescante por padrão ocidental, onde o conceito de intimidade é geralmente baseada na ação de muita proximidade e talvez até de sexo. O diretor consegue mantê-lo calmo e sutil, muitas vezes com poucas palavras, mas é justamente essa sutileza que parece provocar emoções pra lá de profundas de um jovem que pode ter esquecido nos anos futuros. A intimidade da mente, se você quiser.

O drama é conduzido por muitos fios de temas muito bons e dos mais diversos, tem boas amizades, amizades ruins, pai e filho, irmão e irmã, e até o breve relacionamento amoroso. Tudo isso para mostrar a história de um traumatizado jovem de 17 anos, cuja mente move a história. Isso é muito observado em filmes nipônicos, muitos não definem o bem e o mal pelo modelo clássico (leia como modelo cristão-judaico, o de anjo e demônio), ele usa o modo de mostrar pelas duas faces: a boa e a ruim.

O diretor se mostra muito bem nesse papel, fazendo um jogo de câmeras excelente, usando bem o ambiente e os recursos naturais para fazer o filme ficar bem agradável, e ainda conseguindo manter uma narrativa muito agradável. O filme não é nada lento, sendo conduzido bem até seu ótimo final, que falarei depois de mais uma pausa pra água e, não.

Quero falar agora um pouco dos personagens. Acho o principal muito bem construído, afinal… quem é esse cara? Ele é um canalha manipulador? Um herói que salva sua irmãzinha? Um criminoso que aprende uma lição crucial? Não sabemos ao certo antes das últimas cenas.

Ele secretamente bebe uísque, mantém um morcego no seu quarto, mas não se atreve a usá-lo para assustar alguém. Seu relacionamento com Noriko é quase assexuado. Este é (pelo menos como eu acho que) o porquê da sexualidade pertencer ao mundo adulto em que ele vê como uma ameaça. Quando ele ouve os não tão terríveis e exagerados gemidos de sua mãe, não sabe como agir e acaba ficando sem ar, apenas pensando numa solução para sua vergonha.

Ele tem vergonha de ouvir seu pai se masturbando e de que sua mãe e irmã também saibam disso. Eu diria que ele vê Sone como o lado adulto da família e por isso ele deve o destruir a todo custo, nem que pra isso tenha que recorrer a métodos pouco ortodoxos. Uma luta de fogo contra fogo, tudo para salvar sua infância, mas falhar e no fim se autodestruir.

Isso é realmente interesse, já que mostra que ele foi o único homem na casa por mais de 10 anos. Seus professores pareciam ser bem distantes ou desinteressados por seus alunos. O único que mostra interesse por ele é o detetive, mas aí já é tarde demais, pois o dano já foi feito e pouco pode ser reparado.

Para mim, Noriko não é tão importante assim como uma garota real, mas sim como uma idealização da inocência da infância com suas respostas ingênuas e de suas histórias de seu cão falando enquanto dorme. No final do filme, ela está chorando. Mais uma vez eu tomo isso como uma metáfora. Sua inocência se foi, destruíra-na em pedaços. Enquanto ela está segurando as lágrimas, a lista do personagem principal de coisas favoritas é narrado. Aqui, ele finalmente se revela. Não era um herói nem um vilão, apenas uma simples adolescente, com seus prazeres pequenos da vida (com uma pitada de que logo vai começar a sua vida adulta). Depois de todos os esquemas de Shuuichi puxados e de todas as mentiras que ele disse, o conhecimento que ele estava ao mesmo tempo inseguro e vulnerável me fez sentir uma conexão emotiva que eu não encontro em muitos filmes.

O final, ao todo, é muito interessante, ele mostra como suas decisões são irreversíveis. A vida não é simples, e você não deve escolher sempre o caminho longo pela sua felicidade, quando você apenas pode aproveita-la bem ali, na sua frente. Você pode reclamar, mas insatisfeito nunca vai estar de verdade.

Voltando ao primeiro parágrafo, onde não tinha nem começado esse longo texto e nem feito as paradas pra água, citei um trecho do filme: “Eu acho que existem situações em que as pessoas são obrigadas a matar”. Juro pra vocês que senti meu corpo se arrepiando nessa hora. Essa frase é incrível, e meio que definiu o filme inteiro e vários parágrafos que pus aqui.

O final mostra como ele se arrependeu de ter feito o que fez pensando em voltar a ser feliz, como aquilo mudou a vida dele e terminou daquela forma. Não é um final imprevisível, mas fecha bem uma boa história que foi esse filme. Não é um filme inovador, mas me cativou e me fez dizer que é genial mesmo assim, o clichê foi bem usado aqui, não há motivos para não assistir, então corre pra baixar. Adorei o filme e, bem, recomendo ele. Já o coloquei entre meus favoritos do Filmow, fantástico demais.

Um comentário em “O momento que você descobre um novo integrante do top 10: A Luz Azul

  1. Também gostei muito! Ninomiya sempre me emociona! É um dos melhores trabalhos dele! 😀

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